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Pedro Simon encaixota objetos e memórias ao deixar o Senado

Depois de 32 anos como senador, gaúcho retoma militância de rua no Sul

Senador Pedro Simon (PMDB-RS) encaixota seus livros e outros objetos – O Globo / Jorge William

BRASÍLIA — Na manhã da última sexta-feira, livros, fotografias e textos de Bertold Brecht que um dia serviram de inspiração para grandes discursos eram acomodados em antigas caixas pelo ghost writer e “intérprete de alma” de Pedro Simon, o mineiro Zé Rodrigues. Apressado, ele encaixotava documentos e pertences do senador antes que ele chegasse ao gabinete. Não queria deixá-lo triste com a concretude da iminente despedida do lugar em que trabalhou nos últimos 32 anos. Na mesa ao lado, o assessor de imprensa, Luiz Fonseca, conversava ao telefone com um representante diplomático que queria a ajuda de Simon para uma ofensiva internacional pelo reconhecimento do Curdistão.

Aos 85 anos, um dos principais ícone do Senado encerra 60 anos de vida pública, mas não está disposto a por fim à militância que tanto incomodou os poderosos da República. Amanhã, ao lado de jovens, na Esquina Democrática em Porto Alegre, fará o primeiro discurso fora da tribuna oficial do Senado. Ele espera que esse seja o início de uma grande mobilização da sociedade para uma agenda de reconstrução.

DISCURSO DUROU MAIS DE 4 HORAS

Companheiro do “menestrel” Teotônio Vilela na mobilização pela anistia, de Ulysses Guimarães nas “Diretas Já”, de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, de Itamar Franco no caos pós impeachment e de Marina Silva, Eduardo Campos e Aécio Neves neste ano na luta contra o poder do PT, o gaúcho descendente de imigrantes libaneses virou uma pedra no sapato dos corruptos e persona non grata no governo petista, mas resistiu às investidas de integrantes de seu partido, o PMDB, sem nunca abandoná-lo. Um dos fundadores da legenda, ele a chama, até hoje de “MDB”, as iniciais do partido até 1979.

— Fui o psicógrafo de alguém muito vivo. Vou colocar no meu currículo meia linha: assessor técnico e intérprete de alma do senador Pedro Simon. Ponto. As gerações futuras vão me reconhecer por essa meia linha que me engrandece. Arrumo minhas coisas de alma lavada. Agora cada um segue o seu destino — disse Zé Rodrigues, emocionado, depois de receber de presente do senador franciscano o terço de madeira surrado das orações diárias no exercício do voto de pobreza.

Dois dias antes da arrumação do gabinete, em um discurso que durou quatro horas e meia, o senador gaúcho chorou com as homenagens ao se despedir da tribuna. Ganhou de presente dos funcionários uma réplica do microfone com o qual, durante as últimas décadas, dividiu com a sociedade os fatos mais marcantes da História recente. O senador Luis Henrique (PMDB-SC) sugeriu que sua cadeira no plenário permanecesse vazia para sempre, mas ela será ocupada pelo conterrâneo Lasier Martins (PDT), que o derrotou nas urnas em outubro.

Ao chegar ao gabinete na sexta-feira, Simon quis saber o que estava sendo levado e reconheceu que não é fácil encaixotar 32 anos de história. Na sala ao lado, havia um altar com muitas imagens sacras, com destaque especial para São Francisco de Assis, de quem é devoto.

— É difícil, mas fazer o quê né? Estão esvaziando o gabinete. Quando terminei o governo do Rio Grande do Sul, minha irmã fazia o papel de primeira-dama. Ela pegou as coisas que eu tinha, presentes, roupas, e botou num caminhão para levar para casa. Eu mandei tudo de volta. Ela disse: mas como? Eu lhe disse: ninguém viu entrar nada disso, mas todo mundo vai ver sair — contou Simon.

No início do século passado, seus pais foram do Líbano para Caxias do Sul, onde já residiam alguns parentes. Ali, a família se estabeleceu e abriu a loja Salém.

— Eu levei uma vida pobre. Trabalhávamos duro para sobreviver. Mais tarde, fui para Porto Alegre para estudar e entrei na Faculdade de Direito, onde comecei a vida política no movimento estudantil.

TRISTEZA EM 1984

Em 1960, Simon tornou-se vereador em Caxias do Sul e, dois anos depois, deputado estadual — cargo para o qual se reelegeu sucessivamente até chegar ao Senado, em 1978. Se lhe deu glórias, Brasília também foi parte de uma das maiores tragédias de sua vida. Em 1984, ele se engajou na campanha de Tancredo. A chapa foi apresentada à Mesa do Congresso, mas tinha risco de ser arquivada por causa da mudança de partido de Sarney. Combinaram então que fariam uma vigília no Congresso durante a semana de Finados.

Simon tinha combinado levar a mulher, Tânia, e os três filhos Tiago, Tomaz e Mateus para a praia. Mas, por causa da vigília, teve que ficar na capital. A esposa resolveu levar os filhos.

— Minha mulher foi dirigindo, aconteceu um acidente, e o Mateusinho morreu com 10 anos. Ela estava guiando o carro e não se perdoou, entrou em depressão, foi definhando, queria ficar com o filho e quatro meses depois faleceu — relembra o senador, com a voz embargada. Na mesa, inerte, a foto de um menino loirinho.

HISTÓRIA DO PAÍS VISTA DE PERTO

Com a morte de Tancredo Neves, José Sarney manteve seu ministério, e Simon foi confirmado como ministro da Agricultura, mas saiu um ano depois para disputar o governo gaúcho. Mais tarde, com o impeachment de Fernando Collor e a posse de Itamar Franco — para cumprir os dois anos restantes de mandato —, Simon foi um dos principais nomes da equipe, na posição de líder do governo no Senado. Sua ajuda foi fundamental para a aprovar o Plano Real. Com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, Simon diz que levou pouco tempo para ir para a oposição, dentro do partido.

— Fiquei com Fernando Henrique até ele comprar a reeleição e vender a Vale do Rio Doce. Aí, eu rompi e apoiei o Lula em sua primeira eleição (vitoriosa). Me lembro de ver Lula e Zé Dirceu entrando no meu gabinete, me convidando para ir para o governo. Não fui. Vieram as primeiras denúncias sobre o Valdomiro Diniz, assessor do Dirceu. Pedi da tribuna a demissão do Valdomiro. Lula não demitiu. Logo veio o mensalão, e fizemos aquela CPI extraordinária que deu no que deu — conta.

De lá para cá, ao lado do senador Jarbas Vasconcelos (PE), Simon cerrou fileiras junto com a oposição e contra o adesismo acrítico do PMDB. Mais recentemente, adotou a ex-ministra Marina Silva e sua cruzada para criar seu partido, a Rede Sustentabilidade. Estava a seu lado no dia da derrota no Supremo Tribunal Federal (STF).

— Como pode? Tem 32 partidos. Alguns com um só deputado na Casa. Marina, com 20 milhões de votos na eleição anterior e 400 mil assinaturas, foi barrada só porque naquele momento oferecia risco, era uma das mais bem avaliadas nas pesquisas. Foi cruel o que fizeram com ela — diz.

Com a derrota da Rede, foi a voz de Simon que a levou a se aliar a Eduardo Campos, no PSB. Com a morte do ex-governador, em agosto, ele também foi fundamental para garantir a candidatura de Marina no PSB e a indicação do conterrâneo Beto Albuquerque como seu vice. Depois, ajudou a ida de Marina para a candidatura de Aécio Neves. Mas o PT continuou no poder. Foi tudo em vão? Simon diz que não.

— O que ficou de tudo isso é que a vitória da presidente Dilma não é uma vitória! Vivemos um momento esdrúxulo! Um governo que não está morrendo, ele está agonizando. Não está terminando o governo com festa, com láureas. Não. O governo está agonizando, se defendendo de tudo que é forma! E o novo governo começando de triste maneira, sem compreensão e sem capacidade.

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