O incêndio que arrasou parte da catedral de Notre-Dame de Paris foi apagado nesta terça-feira, mas ainda persistem dúvidas sobre a resistência da estrutura deste símbolo da cultura europeia e testemunha da história da França, que começa a planejar a reconstrução da igreja.
Em solidariedade, vários líderes internacionais e famílias ricas francesas ofereceram ajuda para a restauração.
Ministros franceses se reúnem para preparar um plano de reconstrução. Milhões de pessoas em todo o planeta acompanharam a evolução das chamas, que arderam intensamente durante mais de 12 horas, depois que o incêndio começou na parte superior da catedral gótica, destruindo parte do teto e sua emblemática flecha.
Na manhã desta terça-feira, o porta-voz do corpo de bombeiros de Paris, Gabriel Plus, anunciou que o incêndio está totalmente apagado.
— Todo o fogo está apagado. Entramos na fase da perícia — disse Gabriel Plus à imprensa, diante da catedral.
As chamas se “propagaram muito rapidamente pelo conjunto do teto, em quase mil metros quadrados”, segundo ele.
— A tarefa dos bombeiros de Paris até esta manhã era preservar os dois campanários, Norte e Sul, para assegurar que as torres não fossem afetadas — acrescentou.
O porta-voz dos bombeiros celebrou a “preservação dos campanários, das duas torres e das obras”.
Agora os bombeiros vigiam as estruturas, sua movimentação e trabalham para “apagar os focos residuais”, completou.
Ele também indicou que “parte da abóbada desabou na nave central” e que 100 bombeiros ainda estão mobilizados e permanecerão no local durante o dia.
Os bombeiros prosseguem com o trabalho diante dos olhares tristes de parisienses e turistas, que aproximaram para observar o estado da catedral, que fica no coração de Paris, às margens do rio Sena.
Plus detalhou um balanço material “dramático”.
— Todo o teto foi atingido, parte da abóbada caiu, a flecha não existe mais — confirmou o porta-voz.
As duas torres emblemáticas permaneceram de pé, assim como a grande rosácea da fachada sul, mas uma porta parcialmente aberta permitiu observar uma pilha de escombros e algumas vigas no chão da catedral.
O secretário de Estado francês do Interior, Laurent Nuñez, afirmou que a questão agora é “saber como vai resistir a estrutura”.
Reconstrução
Nuñez anunciou uma reunião com especialistas e arquitetos para tentar determinar “se a estrutura é estável e se os bombeiros podem avançar no local para continuar sua missão”.
Os bombeiros já entraram durante a noite “com muita coragem” nas torres para combater a tragédia por dentro e “evitar justamente que desabassem”, explicou o ministro.
— O pior foi evitado — afirmou na segunda-feira o presidente Emmanuel Macron diante da catedral. — Nós vamos reconstruir.
Restaurar o edifício levará anos de obras, indicou o novo presidente da Conferência Episcopal da França, Eric de Moulins-Beaufort.
O fogo queimou a base de madeira do teto de mais de 100 metros de comprimento, conhecido como “o bosque” pelo grande número de vigas que foram utilizadas para sua instalação, assim como o pináculo (a flecha) de 93 metros de altura, um dos símbolos de Paris.
O incêndio está “potencialmente ligado” às obras de restauração do teto e o Ministério Público abriu uma investigação judicial por “destruição involuntária”. O procurador de Paris, Rémy Heitz, disse nesta terça-feira que o incêndio é tratado como acidente, e não como crime.
A catedral de Notre-Dame, cuja construção começou no século XI, é parte do Patrimônio Mundial da Unesco desde 1991. É o monumento histórico mais visitado da Europa, com entre 12 e 14 milhões de visitantes por ano.
A prefeitura de Paris iniciou uma operação para salvar todas as obras de arte.
A coroa de espinhos e a túnica de São Luís, duas das relíquias mais importantes, estão resguardadas, segundo o monsenhor Patrick Chauvet, reitor da catedral.
A Fundação do Patrimônio, organização privada que trabalha para proteger o patrimônio francês, iniciará uma campanha de “arrecadação nacional” para a reconstrução da catedral.
As famílias Arnault e Pinault, duas das mais ricas do país, anunciaram ajuda financeira para a reconstrução. Bernard Arnault e o conglomerado de luxo que controla, o LVMH, doarão 200 milhões de euros. Sua concorrente Kering, fundada pelo bilionário Francois Pinault, ofereceu 100 milhões de euros. Juntas, as contribuições superam o equivalente a R$ 1,3 bilhão. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, disse que o município vai liberar 50 milhões de euros, e a região de Île-de-France, outros 10 milhões (mais R$ 262 milhões).
Durante a noite, centenas de pessoas se reuniram para rezar diante da catedral, algumas sem conseguir conter as lágrimas. Também aplaudiram a passagem dos bombeiros.
Notre-Dame acompanhou a história de Paris desde a Idade Média. Seus sinos anunciaram, em 24 de agosto de 1944, a libertação do jugo nazista e no templo aconteceram os funerais de vários chefes de Estado, como Charles de Gaulle e François Mitterrand.
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