Recluso há um mês em seu apartamento em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, Luiz Inácio Lula da Silva tem se mantido ativo no campo político, mas vem estranhando a nova forma de atuação devido ao distanciamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus, especialmente quase seis meses após ter sido solto por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de barrar prisão sem condenação em segunda instância.

“Estou trabalhando mais e com mais ansiedade, porque eu não sei fazer política virtual, eu gosto de conversar com as pessoas, de apertar a mão das pesssoas, de abraçar as pessoas e por telefone eu não posso fazer isso, sabe?”, afirmou o ex-presidente à Agência Efe.

Durante a entrevista, realizada por videoconferência, Lula disse que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), deveria aceitar os pedidos de impeachment contra o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).

“Deveria aceitar, porque o Bolsonaro já cometeu muitos crimes de responsabilidade”. declarou.

O atual mandatário foi o principal alvo das críticas de Lula na entrevista.

“Quando se nega a política, O que surge depois é bem pior do que a política, foi assim que nasceu Hitler, foi assim que nasceu Mussolini, é assim que nascem os ditadores, com a negação da política, porque não existe saída melhor para o mundo do que a democracia”, afirmou Lula ao comentar a participação de Bolsonaro em um ato pró-ditadura em Brasília.

Em relação a parte da base de apoiadores do presidente, Lula foi ainda mais duro no tom, comparando-a com um “vírus”.

“Tem uma turma aqui no Brasil que é anticomunista, que é antiesquerda, que é antimovimento sem-terra, que é antissindicato. Você tem uma turma assim, e isso é histórico. O que aconteceu com o Bolsonaro é que ela ganhou vida. É como se fosse um vírus que apareceu. Ele tava quieto, não se manifestava, e se manifestou”, afirmou.

O ex-presidente também defendeu uma atuação mais ampla do governo federal em políticas de proteção dos cidadãos, independente do custo econômico, por comparar a situação a uma guerra.

“Você acha que alguém perguntava pro (ex-premiê britânico, Winston) Churchill quanto que a Inglaterra estava gastando para vencer os alemães (na Segunda Guerra Mundial)?”, questionou.

Em relação às eleições de 2022, Lula disse descartar uma frente ampla de oposição aliada a representantes da direita como o governador de São Paulo, João Doria.

“O Doria não estará nunca no projeto do PT, e o PT nunca estará no projeto dele”, enfatizou.

Por outro lado, o ex-presidente mostrou admiração pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) – “governador muito atuante, é um homem de bem” -, mas ressaltou que vê Fernando Haddad como “o candidato que está mais preparado para ganhar as eleições”.

Quanto ao cenário geopolítico, Lula opinou que a China deve sair da crise da pandemia como a maior potência mundial.

“Acho que a China sai dessa pandemia como a economia mais importante do planeta Terra, mais importante que os Estados Unidos, porque eu acho que a China é governada com mais seriedade”, comentou.