Casos como de Ana Carolina Vieira podem ser evitados com informação.
Dançarina de 30 anos foi assassinada e ex-namorado confessou crime.
Uma em cada cinco mulheres já sofreu algum tipo de violência doméstica ou familiar – cerca de 18% das brasileiras. Em 49% dos casos, o agressor é o marido, companheiro ou ex. Casos como o da dançarina Ana Carolina Vieira, morta pelo ex-namorado Anderson Rodrigues Leitão na noite deste segunda-feira (2), são frequentes – as principais causas são ciúmes, uso do álcool e traição conjugal. Os dados do DataSenado são deste ano.
O que fazer em caso de violência? Leia-se violência como qualquer caso de agressão, seja ela física ou psicológica. Perseguição e ameaças frequentes – como ocorreu com Ana Carolina – também são formas de agressão, segundo a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) no Governo Federal.
Em São Paulo, a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres informa que “violência contra a mulher é qualquer ação ou omissão contra a mulher – em virtude de ser mulher – que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”.
Denunciar é sempre a recomendação dos órgãos. O número indicado é o 180, disponível para todo o Brasil, 24 horas por dia. Em São Paulo, a mulher em situação de violência pode comparecer à Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) mais próxima de casa ou, caso não exista uma, ir a uma delegacia comum, para registrar a ocorrência dos fatos e solicitar as medidas protetivas de urgência.
A delegacia é obrigada a colher a denúncia e abrir um boletim de ocorrência – Ana Carolina, mesmo com a perseguição do ex, não fez o registro. Caso os policiais e delegados se recusem, a vítima deve recorrer ao Ministério Público – em julho deste ano, o governo do Estado de São Paulo sancionou uma lei para a criação da Promotoria de Justiça de Combate à Violência Doméstica. A nova Promotoria deverá atuar na prevenção e combate à agressão contra mulher.
Após o registro da ocorrência, qualquer dúvida poderá ser tirada em um Centro de Referência da Mulher (CRM) – por lá, a mulher receberá atendimento social e psicológico e orientação jurídica. Caso não haja um CRM próximo, recomenda-se que a mulher vá até um Centro de Defesa e Convivência da Mulher (CDCM).
De acordo com a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, a violência contra a mulher ocorre em ciclos que se repetem. O ciclo tem três fases: o início da violência, com xingamentos, humilhações, ameaças; a explosão da crise, com violência física, tapas, espancamentos e tentativa de morte; e a “lua de mel”, quando chega o pedido de desculpas, a reconciliação, as promessas de mudança e, às vezes, o perdão da mulher. Por isso, segundo a secretaria, é preciso entender esse ciclo para que a mulher possa rompê-lo.
A psicóloga Joana Singer, doutoranda em neurociência e comportamento pela Universidade de São Paulo (USP), diz que “em geral, a relação já começou a ser estabelecida em uma base de agressão. Muitas mulheres relatam que ele [companheiro] sempre foi amoroso. Mas, às vezes, sutilmente, havia algum tipo de violência”.
E completa: “uma relação é construída. As bases dessa relação são construídas no começo por um casal. A mulher precisa estar atenta aos primeiros sinais de coerção”. Para driblar o medo de denunciar e angariar forças, Joana recomenda que a mulher vá até o órgão acompanhada de um familiar ou amigo de confiança.
Dançarina morta
O ciúme, razão que o ex-namorado de Ana Carolina Vieira diz ter causado o assassinato, é responsável por 21% dos casos de agressão contra a mulher. Já os casos de violência causados por uso do álcool são 19%; por traição, 3%.
A dançarina foi encontrada morta na manhã desta quarta-feira (4) no apartamento em que morava na Rua Vergueiro, no Sacomã, na Zona Sul, de acordo com a Polícia Civil.
O ex-namorado dela, Anderson Rodrigues Leitão, que é suspeito do crime, foi preso por volta das 16h na mesma região. No 95º Distrito Policial, na Cohab Heliópolis, Anderson deu uma entrevista ao G1 e contou como ocorreu o crime, que teria sido motivado por ciúmes.
Mais tarde, ele também confessou à polícia ter matado a dançarina estrangulada e disse ainda que tomou veneno de rato para morrer abraçado com a ex-namorada. Ele vai responder por homicídio e ocultação de cadáver.
Ana Carolina participou em junho deste ano do concurso “Bailarina do Faustão” na capital paulista. Ela também trabalhou cerca de um mês com a banda Aviões do Forró.